segunda-feira, 29 de julho de 2013

Recriação x recreação

Boa noite!

Como o título da postagem sugere, hoje falarei um pouco da recriação e da recreação.

Para não dizerem que estou dando a minha visão da coisa, vou colocar o significado dessas palavras segundo o dicionário (para confirmarem eis o link).

Recreação:
s.f. Interrupção do trabalho para descanso e higiene mental.

Recriação, derivado do verbo recriar:
v.t. Criar de novo.

A diferença não é nada sutil, apesar da grande confusão que muita gente acaba fazendo.
Bom, vou direto ao ponto, para não acharem que estou tratando de um erro de escrita.

A recreação é uma prática lúdica qualquer, um momento para descontrair e se divertir. Relaxamento seria um sinônimo ideal do conceito que estou tentando formar aqui.
O recriacionismo Histórico, ou Recriação Histórica pode, sem sombra de dúvidas, ser uma espécie de recreação. Mas não o é pura e simplesmente.

A confusão que existe no meio nacional, onde a palavra "recriação" (ou recriacionismo) é derivada do português de Portugal e do espanhol da Espanha (onde o nome não é reatuamento ou reatuação, como poderia parecer lógico), vem do fato de muitos não se atentarem ao significado do verbo. Como já dito, criar de novo. Ou seja, só se recria o que já foi criado, mas na prática a realidade é outra.

As pessoas chamam, erroneamente, muitas coisas de recriacionismo ou reenactment. Inventam roupas, decorações, acessórios, estilos de lutas e até armas e armaduras e as chamam de recriações. Quando não o são. São criações genuínas, não cópias.

É isso que tira o aspecto recreativo (com e) da recriação. A recriação está presa a uma série de regras para que possa ser verdadeira e a regra número 1 é a de que se está recriando e não criando. Se assim o fosse, seria chamada de Criação ou Criacionismo. E mesmo na língua inglesa, onde o reenactment acaba surgindo mais vezes, há este "re". Na verdade em qualquer língua ele existe, mesmo que tenha outra aparência. Isso faz o recriacionismo ser menos recreativo, claro, já que demanda trabalho e uma certa falta da tal "higiene mental" supracitada.

Para dar exemplos, que facilitam a compreensão de todos, se alguém seguir todas as descrições de Tolkien ou do George Martin e à partir delas se juntar com outras pessoas para tentar viver a Terra Média ou Westeros, não estará fazendo o que se chama de Recriacionismo, pois são obras fictícias. Pasmem, mas mesmo que alguém siga as descrições de Bernard Cornwell, estará se baseando em pura ficção, por mais fundamentada na realidade que seja.

Se alguém copiar as armas e armaduras de filmes e seriados, também não estará fazendo reenactment, mas sim um cosplay de alta qualidade, pois o reenactment, por definição, é "historical reenactment". A menos, é claro, que essa pessoa quisesse criar uma modalidade totalmente nova e chamá-la da maneira que bem entendesse. Mas daí seria mais inteligente criar um nome novo para não confundir os leigos ou SE confundir quando a necessidade surgisse (como buscas no Google. Um só termo para duas coisas distintas sempre é ruim no Google).

Mas aí é que está, se vestir de Harry Potter na fila do cinema não é recriação, mas é, sem sombra de dúvidas, recreativo. Provavelmente deve ser divertido para quem o faz, mas é uma prática distinta.

O intuito desta postagem não é desmerecer aquilo que não é recriação, mas apontar as diferenças. Da mesma forma que há quem goste de pick-ups, há quem goste de sedans, um não é melhor do que o outro, são apenas diferentes.

No Brasil temos muitos entusiastas que gostam de filmes de fantasia ou jogos de videogame. Ou que lêem obras incríveis de ficção histórica. Assim como um historiador provavelmente não entende muito de física quântica porque nunca estudou isso a fundo, algumas pessoas manjam tudo sobre cenários fantásticos sem saber ou, talvez, sem se interessar pela realidade. E qual é o problema?

Absolutamente nenhum! Cada um que faça sua recreação da forma que lhe apetece, todos tem o direito de se divertir, seja se vestindo de um guerreiro da elite visigoda de Toledo do final do século VII, de um anão da Erebor da Terceira Era da Terra Média ou de capitão caverna. Mas cuidemos com o i na conversa, pois alguns podem se perder com as definições e jamais atingir nenhum dos dois lados dessa briga semântica.

Nos próximos posts eu usarei alguns termos explicados nessas primeiras publicações insistentemente, então seria bacana se acompanhassem quando desse, pra não se perderem ou confundirem.

E, se tiverem alguma sugestão de tema ou assunto, podem mandar nos comentários.

Até a próxima!

sábado, 27 de julho de 2013

Primeira postagem

Boa noite!

Venho por meio deste blog descrever uma prática ainda em estágio embrionário no Brasil. Embrionária pois a ideia já existe, o contato, pelo menos digital, já existe, mas a prática acontece num nível tão ínfimo que é quase inexistente.

No blog falarei sobre meus interesses particulares, no caso, a recriação dos períodos entre os séculos IV e XI, primariamente, ainda que eu possa comentar em algumas postagens outros assuntos.

Primeira postagem e o assunto não poderia ser diferente: O que é esse bendito recriacionismo?
Apesar de ser o assunto em questão, a resposta não será dada, pois é complicada de mais pra alguém ter saco de ler de uma só vez, julgo eu. Também não há como pensar num “curso” ou “aulas” de recriacionismo, por motivos que explicarei à seguir.


Pois bem, vou começar com o simples: definições.

O Reenactment, ou “re-atuação”, é o que o nome diz, agir de forma que já foi feita antes. Parece uma descrição babaca, mas é primordial para o entendimento da prática. Sendo assim, é necessário, acima de tudo, saber como se agia para “reatuar”.

Esse conhecimento só é obtido através de muito estudo ou pelo menos muita dedicação a levar a sério o estudo de outros. Estudos estes que sempre podem ser questionados na eterna dialética dos meios acadêmicos.

O recriacionismo pode ser, de modo geral, aplicado a qualquer contexto histórico. Contextos mais distantes geralmente possuem fontes escassas, mas uma maior liberdade por parte do recriacionista ou reenactor, enquanto os mais próximos são mais ricos em detalhes, mas trazem uma série de complicações, uma vez que ainda podem trazer efeitos colaterais agregados.


Para evidenciar o parágrafo anterior, existem grupos de recriacionismo grego antigo ou da Roma clássica, ao mesmo tempo em que ocorrem reenactments sobre a Segunda Guerra Mundial ou guerra civil americana. Os primeiros podem até contar com inúmeras fontes escritas e achados arqueológicos, mas sempre deixam alguns detalhes sobre a vida naquele período um pouco enegrecidos. Os outros são de fácil recriação e também contam com diversas referências, mas acabam trazendo influências ideológicas que muitas vezes são confundidas com a prática do reenactment em si e podem gerar constrangimentos e interpretações erradas. Para deixar claro, um reenactor que se vista como um soldado nazista de 1943 pode, involuntariamente, ser chamado de nazista de fato, ainda que seu interesse pelo nazismo seja apenas o de um estudioso e não uma filiação ideológica.

O recriacionismo, então, recria um período de forma voltada ao estudo. É uma prática lúdica, mas com caráter educativo, primeiramente. Portanto não há como haver uma aula rápida ou um curso, uma vez que a própria prática já é um aprendizado constante.


Apesar de tudo o que foi dito, ainda há muito o que falar sobre essa prática, mas para um post introdutório, acho que já é o bastante.

Para ler um pouco mais, há este breve texto na página do grupo Escudo dos Vales, do qual sou membro e fundador.

Até a próxima postagem!

Por Vinícius Ferreira Arruda.